Há muitas
discussões em torno dos conceitos de “perfeição” e “perfeccionismo”.
A própria tese doutoral de Hans K. LaRondelle, intitulada Perfection and
Perfectionism: A Dogmatic-Ethical Study of Biblical Perfection and
Phenomenal Perfectionism, defendida na Universidade Livre de Amsterdam,
Holanda, considera em profundidade o assunto. Mesmo em poucas palavras,
podemos destacar algumas semelhanças e diferenças entre perfeição e
perfeccionismo. Em termos de semelhanças, os defensores de ambos os conceitos
assumem que a vida cristã é plena de vitória em Cristo, envolvendo
um constante afastamento do pecado e uma contínua aproximação de Cristo.
Já uma das
diferenças básicas diz respeito à doutrina do pecado. Os que aceitam
o conceito bíblico de perfeição reconhecem que biblicamente os atos
pecaminosos são manifestações da natureza pecaminosa em que se encontra o
pecador. Em Marcos 7:21-23, lemos: “Porque de dentro, do coração dos homens, é
que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios,
os adultérios, a avareza, as malícias, odolo, a lascívia, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e
contaminam o homem.” Portanto, no dizer de Lutero, “as más obras
nunca tornam o homem mau, mas o homem mau executa más obras” (Da Liberdade
Cristã, pag.23). Em contraste, o perfeccionismo tende a definir pecado mais
pela perspectiva de atos pecaminosos que devem ser vencidos para que a
pessoa possa ser considerada justa.
Outra importante diferença a ser mencionada é a compreensão da
natureza humana de Cristo durante a encarnação. Os que seguem o conceito
bíblico de perfeição creem normalmente que Cristo assumiu a natureza
humana enfraquecida, física e morfologicamente, por milhares de anos de
pecado, mas que nos aspectos espiritual e moral Ele não tinha tendência ao
pecado. De acordo com Ellen G. White, “nem por um momento houve nEle qualquer
propensão ao mal” (E. G. White, SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1128). Por
sua vez, os perfeccionistas acreditam que Cristo veio ao mundo com a mesma
natureza e as mesmas tendências ao pecado dos demais seres humanos, e
que nós podemos vencer o pecado assim como Ele venceu. No entanto, se
Cristo veio na mesma condição pecaminosa que os demais pecadores, como
poderia Ele ser o Salvador da humanidade, sem necessitar de um salvador
para Si mesmo?
Uma terceira diferença é quanto à vitória sobre o pecado. Os que
advogam o conceito bíblico de perfeição reconhecem que o pecado é ofensivo
a Deus, e afasta de Deus o ser humano. Eles buscam plena vitória sobre o
pecado, reconhecendo que continuarão com a natureza humana pecaminosa até
o dia em que “este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que
é mortal se revestir da imortalidade” (1Co 15:54). Nas palavras de Ellen
G. White, “enquanto reinar Satanás, teremos de subjugar o próprio eu e
vencer os pecados que nos assaltam; enquanto durar a vida não haverá
ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: ‘Alcancei
tudo completamente.’ A santificação é o resultado de uma obediência que
dura a vida toda” (Atos dos Apóstolos, p. 560, 561). Por sua vez, os
perfeccionistas advogam, já nesta vida, um nível de perfeição plena no
qual, como disse alguém, não precisamos mais orar “perdoa-nos as nossas
dívidas” (Mt 6:12), pois supostamente não teremos mais pecados a
ser perdoados.
Um dos relatos mais elucidativos da diferença entre a perfeição
e o perfeccionismo é a parábola do fariseu e do publicano (ver Lc
18:9-14). Enquanto o fariseu seguia orgulhosamente pelo caminho do
perfeccionismo, o publicano avançava na senda da perfeição,
considerando-se pecador e indigno. Em realidade, aqueles que estão
no caminho da perfeição em Cristo, ainda não sendo perfeitos, já são
considerados perfeitos em Cristo, que é perfeito (ver Fp 2:12-15); mas
jamais se considerarão como tal (cf. 1Tm 1:15). Além disso, enquanto os
perfeccionistas são mais críticos dos outros do que de si
mesmos, os que estão sendo santificados são mais rigorosos consigo mesmos do que com os demais.
mesmos, os que estão sendo santificados são mais rigorosos consigo mesmos do que com os demais.
Texto de autoria do Dr. Alberto
Timm publicado na Revista do Ancião (abril – junho de 2011).
Fuente: SÉTIMO DÍA
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